Notícias > Exportar no pode ser s um negcio da China Exportar no pode ser s um negcio da China
22/01/2025
Por Rafael Cervone*


A divulgao recente dos resultados da balana comercial de 2024 evidencia um contraste marcante entre as economias da China e do Brasil. Enquanto o supervit do pas asitico alcanou o impressionante recorde de US$ 992 bilhes, com um crescimento de 21% em relao ao ano anterior, o nosso foi de US$ 74,6 bilhes, representando o segundo maior saldo da histria, mas com uma queda significativa de 24,6% em comparao a 2023. Nossos nmeros, embora positivos, revelam desafios estruturais que demandam ateno e aes estratgicas.

Fica muito claro que a China vem conseguindo capitalizar sua posio como fbrica do mundo, utilizando-se de fatores como baixos custos operacionais, subsdios, juros reduzidos e um aparato regulatrio muito menos restritivo. Em contraste, o Brasil apresentou queda nas divisas geradas pelas vendas externas, mesmo com um aumento de 3% no volume embarcado.

Esse descompasso reflete um problema crnico a ser enfrentado: a necessidade de incluir mais produtos com maior valor agregado na nossa pauta de exportaes. Ou seja, premente fortalecer a indstria nacional e favorecer sua insero no comrcio exterior. Programas como o Novo Marco da Indstria Brasileira (NIB) e a Depreciao Acelerada so fundamentais, mas precisam ser agilizados e ampliados para criar um ambiente mais favorvel ao crescimento do setor. Tambm cabe desburocratizar ao mximo a elegibilidade das empresas ao regime de drawback, que considero um importante instrumento, ao desonerar a importao de insumos destinados produo de bens exportveis.

Em outra vertente, fundamental lembrar os problemas estruturais que seguem conspirando contra os produtos brasileiros. Juros altos, dificuldade de acesso ao crdito, custos trabalhistas muito elevados, insegurana jurdica, pesadas despesas com logstica e burocracia excessiva continuam inibindo nosso potencial competitivo. imprescindvel, ainda, reduzir os nus dos impostos. Apesar da aprovao e regulamentao da reforma tributria, seus efeitos plenos s sero sentidos em 2033, e o Brasil no pode esperar at l para tornar as exportaes mais competitivas.

Os problemas internos do Pas agravam a desigualdade nas condies concorrenciais. Naes como a China oferecem subsdios robustos e tm custos muito menores em termos de legislao laboral e arcabouo regulatrio, forjando uma vantagem difcil de superar. Por isso, respeitando de modo intransigente a dignidade do trabalho e os preceitos da sustentabilidade ambiental, precisamos atenuar todos os fatores que estejam ao nosso alcance, como abordei anteriormente, para potencializar nossa competitividade. Isso significa buscar solues que minimizem os custos internos, incentivem a inovao e garantam que o produto brasileiro seja cada vez mais atraente e acessvel no mercado global.

Os resultados de nossa balana comercial em 2024 so, sem dvida, dignos de reconhecimento. No entanto, a queda no valor das exportaes associada ao aumento do volume comercializado acende um sinal alerta. Enquanto a China avana a passos largos no comrcio internacional, o Brasil precisa responder com medidas estruturantes que fortaleam sua insero global.

O desafio grande, mas a oportunidade de transformar o potencial econmico em resultados concretos ainda maior. O futuro do nosso comrcio exterior depender diretamente das aes que adotarmos j. preciso cuidar muito bem dessa pauta para que a exportao no se consolide apenas como um negcio da China, mas tambm como fator de crescimento sustentado, gerao de empregos e bem-estar social no Brasil.

*Rafael Cervone o presidente do Centro das Indstrias do Estado de So Paulo (Ciesp) e primeiro vice-presidente da Federao das Indstrias do Estado de So Paulo (Fiesp).