Notícias > Um governo contra a competitividade econmica Um governo contra a competitividade econmica
17/06/2024

A indstria paulista est profundamente preocupada com uma srie de medidas do Governo Federal contra a competitividade do setor, prejudicando seu fomento, fundamental para o crescimento sustentado e vigoroso da economia brasileira. Nesse contexto, lamentvel a Medida Provisria 1.227/2024, editada em 4 de junho ltimo, que limita o uso de crditos do PIS/Cofins para abatimento de outros tributos, que causar perdas de bilhes s empresas.

Juristas j alertam que a Constituio Federal probe qualquer MP que estabelea a reteno de ativos financeiros, dentre os quais se incluem os crditos de PIS e Confins dos contribuintes. Ademais, esses montantes no so benefcios fiscais, mas sim um sistema de apurao que busca tributar o valor agregado em cada etapa da cadeia produtiva. Sua utilizao para compensar o pagamento de outros tributos garante a eficcia do princpio constitucional da no cumulatividade. Porm, todos esses fatores foram desconsiderados.

Mais grave ainda o argumento do governo de que a MP se destina a compensar a renncia fiscal referente desonerao da folha de pagamentos dos 17 setores mais intensivos em empregos do Pas. No se pode esquecer que o suposto benefcio acabar em 2027, mas o imposto seguir. No h perda alguma para o errio em manter a desonerao, pois essa bem-sucedida poltica para atenuar os custos trabalhistas brasileiros, includos entre os mais altos do mundo, vem sendo praticada h 13 anos. Cabe considerar que os milhes de postos de trabalho que ajudou a criar e manter, alm de reduzirem a excluso social e gerarem oportunidades e renda para os trabalhadores, pouparam os cofres pblicos com a economia de expressivos recursos referentes ao salrio desemprego e custos previdencirios.

Tambm importante lembrar que o governo desrespeitou o Congresso Nacional, que, no final de 2023, havia aprovado a prorrogao da desonerao at 2027, que teve o veto da Presidncia da Repblica derrubado pelo Parlamento. Depois de vrias investidas frustradas contra a medida, o Executivo fez acordo com o Legislativo para mant-la em 2024, com reonerao paulatina nos anos seguintes. Tal soluo, que j no foi a ideal, caiu por terra com a MP 1.227, que no compensa a desonerao, mas descompensa o oramento, o planejamento fiscal, o caixa e a lucratividade das empresas.

Em outra atitude contrria competitividade da indstria, tambm prejudicial ao varejo, em agosto de 2023 o governo concedeu iseno total do Imposto de Importao para remessas de at US$ 50 das plataformas internacionais de e-commerce, que passaram a recolher apenas 17% de ICMS, ante uma taxao total de at 90% incidente sobre as empresas nacionais. Essa brutal desigualdade tributria gera uma situao de competio desleal.

Ante os danos causados ao mercado interno e a uma tentativa do Poder Legislativo de solucionar a questo e pr fim ao privilgio dos sites estrangeiros, o governo fez acordo para o estabelecimento de alquota de apenas 20%, conforme projeto aprovado pela Cmara dos Deputados e do Senado. O ndice, entretanto, ainda mantm em grande desvantagem aqueles que produzem, vendem, investem e geram empregos no Pas. Cabe destacar que, alm de tudo, as encomendas de valor acima de US$ 50 obtiveram melhor tratamento tributrio do que antes da aprovao do projeto, com um imposto escalonado que cai de 60% (at ento vigente) para cerca de 25%. Ou seja, no estamos falando de blusinhas. O prejuzo atinge tudo o que a indstria produz e o varejo vende no mercado nacional.

Alm das pautas da desonerao da folha de pagamentos e do benefcio fiscal s plataformas internacionais, hoje em destaque na mdia, oportuno lembrar outras duas medidas muito lesivas indstria e economia adotadas pelo atual governo: a tributao das subvenes para investimento e custeio (incentivos de ICMS Lei 14.789/2023), que acarreta perdas estimadas em R$ 25,9 bilhes; e a limitao temporal ao aproveitamento de crditos tributrios federais decorrentes de deciso judicial (Lei 14.873/2024), com perdas estimadas em R$ 24 bilhes.

Incapaz de conter o rombo fiscal do Estado, que segue gastando mais do que arrecada, inchado, ineficiente e devolvendo muito pouco sociedade em servios de sade, educao, segurana, saneamento bsico, habitao e infraestrutura, o Governo Federal busca retirar dos setores produtivos o dinheiro para financiar o seu dficit oramentrio. No se mostra propenso a fazer acordos com o Legislativo para realizar a reforma administrativa, visando modernizao e racionalizao da mquina pblica. Prefere seguir onerando quem produz e trabalha. Por que castigar ainda mais a indstria que j contribui com um tero da arrecadao de impostos?

As medidas adotadas contra o setor conspiram, de modo contraditrio, contra o recente plano da Depreciao Acelerada e o programa Nova Indstria Brasil (NIB), cujos recursos para financiamentos, alis, sequer tm a devida clareza quanto ao seu encaminhamento. Perplexos, assistimos a uma incompreensvel investida governamental contra o cho de fbrica, que foi um dos principais responsveis pelo desenvolvimento das naes mais ricas, fator decisivo para a retomada ps-pandemia e fundamental para gerar empregos, investimentos, inovao, divisas maiores com a exportao e incluso socioeconmica. Ignorar a Histria pode custar muito caro ao Pas e ao seu povo.

Centro das Indstrias do Estado de So Paulo (CIESP)